Recentemente o governo sancionou uma lei que faz com que todas as empresas que utilizem marcação eletrônica de ponto devem se adequar, substituindo seu aparelho e mudando seu processo. Até esta frase, caro leitor, nada de anormal; pelo contrário, informatização é sempre preciso, ainda mais se reduzir custos ou otimizar processos. Ao invés de "bater o ponto", o funcionário deverá registrar sua entrada em um equipamento eletrônico certificado. Este equipamento emitirá então um recibo (em papel) comprovando a hora que o funcionário entrou e saiu. Ahn? Pois é... Imaginem explicar isso para um europeu, e tentando comprovar tudo com base em créditos de carbono e protocolos de Kyoto.
Abismou-se? Tem mais: o funcionário obrigatoriamente deve reter seus comprovantes. Estima-se então que serão gastos por ano mais de 1 bilhão de tiquetes.
Abstendo-se da questão processual, passemos aos custos. Uma empresa com cinqüenta funcionários deverá gastar, por ano, mais de R$2.000,00. Com o sistema de cartão ou folha de ponto este custo cai para R$10,00 por mês. Contrasenso total. Ora, mas e o aparelho? Além de poucos, são caros, e não saem por menos de R$ 3.000,00, podendo chegar facilmente ao dobro disso.
Por último, e não menos pior: a descarga dos dados é feita através da conexão de uma pen drive. Pois bem, quase não existem tecnologias sem fio para fazer a transferência destes dados, de maneira até mais segura do que via USB. Pois bem, ainda há este pequeno detalhe, sendo necessária intervenção humana para integração e utilização dos dados de fato.
Em tempos de humanização e flexibilização do trabalho, home office, trabalho com foco em resultado, surge uma determinação como essa. Que não só fere questões econômicas ou trabalhistas, mas também ambientais. Não só pelo papel, mas pelos toners e tintas, que são caríssimos ambientalmente falando. Mas o que poderíamos esperar do último país do mundo que abandonou as impressoras matriciais para impressão de suas notas fiscais?
O país que tem a eleição de seus governantes feita eletronicamente em praticamente sua totalidade, o país que possui um dos mais inteligentes sistemas de envio de Imposto de Renda para a receita, dá uma mostra de sua pequenez. Assim como na padronização das tomadas, no kit de primeiros socorros obrigatórios nos veículos, governantes querem dar mostra de que realmente conseguem comandar o país. Não melhorando o que precisa, mas sim criando mais obrigações e determinações que atrasam a todos no que realmente deve ser pensado. Ao invés de pensar em reforma tributária, ponto maior de insatisfação do empresariado brasileiro, inventa-se mais uma obrigação para os geradores de emprego do país.